segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Discussão no Grupo "Rede Restaurativa Brasil"

[22/10 09:37] Enf. Diego Leal - Comsol: NÃO ERA SOMENTE UM DESODORANTE VENCIDO

 
Bullying não é brincadeira. Bullying não é mimimi.

A chacina de Goiânia é um alerta político. Um adolescente de 14 anos, vítima frequente das ofensas de sua turma, roubou a pistola dos pais policiais militares e matou dois colegas e feriu outros quatro dentro do Colégio Goyases na manhã dessa sexta (20/10). Era uma vingança pelas humilhações suportadas em silêncio ao longo do ano letivo. Ele vinha sendo hostilizado de fedorento e chegou a receber até um desodorante como inesperado, pungente e irônico presente.

Não tem como justificar o crime, nem perdoá-lo. Mas é o momento de refletir sobre o quanto subestimamos a violência escolar. O bullying hoje está muito mais agressivo do que duas décadas atrás, pois envolve também perseguição e segregação digital. Os desaforos não terminam na escola, seguem pelo dia adentro na web. O sinal do fim da aula não interrompe o medo.

A tortura psicológica não encontra pausa, com troças infinitas pelos contatos no WhatsApp. O estudante esculhambado não vê para onde fugir, pois a sua página no Facebook também é invadida por comentários ofensivos e insinuações violentas.

Quem diz que bullying sempre existiu e que a preocupação com apelidos é uma frescura não acompanha a trolagem nas redes sociais.

Bullying é saúde mental, é saúde pública. Ao cuidar dele, preventivamente, em campanhas nas escolas, estaremos economizando lá adiante com internações e medicação nos hospitais.

Bullying não é exagero, não é drama, não é piada inofensiva, não é implicância natural.

Quantos adolescentes, sem saída para a angústia, em vez de revidar os ataques, cometem suicídio? E nunca ficamos sabendo. São engolidos pela solidão, levando consigo os segredos malditos e perversos da convivência.

O adolescente é uma bomba-relógio porque sente a vida com o dobro de intensidade dos adultos. Ele ama e odeia ao mesmo tempo, está permanentemente à flor da pele, caminhando do tudo para o nada, do nada para o tudo. Alterna extremos de alegria e de raiva em pouquíssimos minutos.

O corpo está mudando, a voz está mudando, ele não reconhece mais a si e depende da aprovação externa de seus amigos para assumir a identidade. Se não é aceito nos grupos sociais, se não é aprovado, ele se convencerá de que é um monstro, entenderá que crescer é uma metamorfose do mal.

Ele também não tem nenhuma reserva emocional: perdeu a proteção e a segurança da infância. Não caminha mais de mãos dadas com os pais, não recebe colo, não cura as discussões com abraços, não se desculpa com beijo. Não acontecerá o contato da pele para reaver os vínculos. É somente cobrado sem os prêmios do afeto e do conforto de quando era pequeno. No fundo, encontra-se sozinho pela primeira vez no mundo. Pretende se mostrar independente, porém é carente e sedento de reconhecimento.

O adolescente é órfão de suas perguntas e aflições. Tranca o quarto e chaveia o coração.

Ele merece um cuidado especial. Não se abrirá com facilidade. Não comunicará o seu sofrimento. O costume é engolir o pedido de socorro. Talvez tente emplacar uma conversa séria uma única vez, mas, se fracassar, não voltará a tocar no assunto. Mergulhará de novo para a educação fingida e respostas monossilábicas.

O adolescente não dá segunda chance para a confissão. Ou os pais e educadores permanecem atentos aos sinais ou ele irá explodir secretamente contra si ou contra todos.

A recuperação exige a confiança rarefeita do desabafo. Porque a dor, quando guardada, aumenta. Já a dor, quando partilhada, diminui - quem consegue falar descobre que a sua dor não é exclusiva e que muitos sofrem parecido.

Bullying destrói personalidades fortes, desmancha temperamentos firmes. Sua maior maldade é transformar a ferida em alegria, as privações em palhaçadas. As risadas machucam. Apanha-se de risadas. Pessoas se divertem às custas do constrangimento de alguém. De sinônimo do bem, a gargalhada é convertida em veneno.

O que nos resta a fazer é mudar o nosso entendimento de coragem. Coragem não é sofrer sozinho, é pedir ajuda.

Fabrício  Carpinejar
[22/10 09:41] Sergio Diefenbach. 051. restaurativa: Prezados. Em razão dessa tragédia na escola em Goiás, fui provocado por um amiga que indagou se aquelas famílias e a escola estão recebendo algum atendimento com viés restaurativo. Alguém sabe dizer?
[22/10 09:46] Enf. Diego Leal - Comsol: Verdade.
Bom questionamento.
Se fosse na área do Caps ode trabalho ou na área dos Caps de Porto Seguro isso seria feito, por causa da nossa determinação em aplicar e comprender melhor a JR.

Um lindo dia a todos.

Minha gratidão ao Criador pelas práticas restaurativas.
[22/10 09:55] Leoberto Brancher. restaurativa: Em se tratando do filho de policiais e não de um adolescente de periferia, será que o episódio alimentará os clamores para redução da idade penal !?
[22/10 09:56] Leoberto Brancher. restaurativa: A propósito, cedendo ao quanto esse debate tem a nos ensinar sobre Justiça Restaurativa, em suas diferentes e complexas nuances, pode ser interessante pensar o caso tambem sobre o veis seguinte :
[22/10 09:56] Leoberto Brancher. restaurativa: Por Jordan Campos
Sim, um adolescente matou dois colegas de escola com uma arma de fogo. Sim, pessoas desinformadas e com a ajuda da mídia espalham que o bullying foi o motivo. Não, não foi este o motivo. E vou aqui explicar um pouco sobre tudo isto.

Sou pai de quatro filhos, psicoterapeuta clínico de crianças, jovens e adultos e discordo completamente da “desculpa esfarrapada” desta pseudo-versão dos fatos. Bullying é o resultado de um abuso persistente na forma de violência física ou psicológica a uma outra pessoa. Bullying não é a piada sem graça, a ofensa solta ou uma provocação por conta do odor resultante da falta de desodorante por quatro dias, que foi exatamente o “caso” do adolescente que matou seus colegas. O motivo pelo qual o jovem assassinou seus colegas é um conjunto de fatores na formação de sua personalidade sob responsabilidade de seus pais.

O GATILHO que deu o start em seu plano de matar pode ter surgido da provocação de seus colegas, sim. Foi uma reação desmedida, autoritária, perversa e calculada a um conflito em que ele se viu inserido. A falta de preparo emocional e educacional deste jovem para lidar com frustrações é o ponto alto deste simples quebra-cabeças. Quando somos colocados frente a um conflito, ou o enfrentamos, ou fugimos ou paralisamos. As vítimas de bullying costumam paralisar e passam anos no gerúndio do próprio verbo que identifica este problema. Bullying é uma ressaca, um trauma no gerúndio, que vai minando as forças, destruindo a autoestima e a identidade frágil de suas vítimas.

No caso do adolescente em questão ele não teve tempo de ser vítima de bullying, ele simplesmente enfrentou a provocação de ser chamado de fedorento com base em sua formação de personalidade, filosofia de vida, exemplos e criação, reagindo. Colegas de sala disseram que ele era adorador do nazismo, cultuava coisas satânicas e quando provocado dizia que seus pais, que são policiais, iriam matar os provocadores se ele pedisse!!!! BINGO!!!!

NÃO FOI BULLYING - Por mais espantoso que possa ser, desculpem mídia e pseudo-sábios filósofos contemporâneos - o garoto matou porque tinha na sua formação de personalidade uma espécie de autorização para fazer! A identidade deste jovem de 14 anos estava formada em um alicerce que permitia isso. Ele provavelmente iria fazer isso logo logo... Na escola, com o vizinho, na briga de trânsito ou com a namorada que terminasse com ele, e isso nada tem a ver com Bullying. A provocação foi apenas o motivo para “fazer o que já se era.”

Agora, falando do Bullying, digo sem pestanejar que o maior culpado pela sedimentação do bullying e suas prováveis repercussões não são os coleguinhas “maldosos”, e sim a FAMÍLIA de quem sofre este tipo de ação. Se quem sofresse bullying fosse um potencial assassino a humanidade estava extinta. Mata-se muito por traições, brigas de trânsito, desavenças de trabalho, machismo, homofobia... Mas não por Bullying. Do contrário - é muito mais provável um suicídio, depressão, implosão.

O que faz com que alguém resista ou não a uma ação que pode virar bullying? Simples – a capacidade do jovem em lidar com frustrações e aprender a enfrentar seus problemas e conflitos. Esta é a maior prevenção ao bullying – aprender a vencer frustrações se submetendo a elas de forma sadia e com orientação. Aprender a respeitar os pais e a vida. Ter lições diárias de cidadania, direitos humanos - mas o mais importante - passar por frustrações e ter apoio dos pais, sem lamentar e encontrar culpados e sim crescer forte entendendo que neste mundo não podemos ter o controle das coisas.

Pais, ensinem seus filhos a respeitarem vocês e aos outros. Sei que muitos de vocês estão cheio de carências, desesperados em relações funcionais fúteis, e projetando em seus filhos o amor que não tiveram de quem acham que deveriam ter. Negligenciam assim o respeito e querem ser amados - isso contribui para fazer jovens fracos, deprimidos, ansiosos, confusos e vítimas fáceis para o bullying. Lembrem-se: só se ama e se valoriza o que se aprende a respeitar!

Obs: Este texto foi feito com base em informações disponíveis na imprensa e pela polícia até então. Não é um exame, avaliação ou diagnóstico psicoterapeutico, e sim considerações em tese, de cunho geral de muitos anos atendendo jovens como profissional do comportamento.

Por Jordan Campos
www.jordancampos.com.br
[22/10 10:02] ‪+55 84 9157-5085‬: A propósito... os círculos em escola são grande suporte no aprendizado de como viver um conflito e encontrar sentido para emoções tão destrutivas. A força restaurativa pode apresentar soluções mais positivas para essas situações de violência escolar
[22/10 10:09] Luiza Maria Oliveira Scar. 045. restaurativa: Uma reflexão advinda não só do conhecimento, porém, aliada a prática faz toda a diferença! Muito bom o texto!👏👏👏👏👏
[22/10 10:15] ‪+55 51 9328-3760‬: Seria muito importante oferecer um espaço de escuta para essas pessoas. A mídia reproduz suposições e, com isso, mais violência.
[22/10 10:20] ‪+55 43 9656-8257‬: No início da manhã havia lido esse texto do Jordan por indicação de uma amiga antiga e ele me acalma o espírito... temos um compromisso claro com a superação de todas as formas de exclusão e agressão ao outro... nossa atuação é pelo acolhimento... pelo entendimento e promoção do outro, porém... também nos cabe a reflexão sobre o gatilho para esta reação violenta por parte do menino que, no meu entendimento, reproduz mais a cultura bélica, o não levar desaforo pra casa... vale muito a pena pensar mais e melhor sobre esta situação! Obrigada por compartilhar @⁨Leoberto Brancher. restaurativa⁩ !
[22/10 11:04] ‪+55 54 8105-0946‬: Costumo dizer que a instituição prisional só existe pq todas as demais falharam, começando pela família.
[22/10 11:13] Lastênia Soares. 085. restaurativa: Muito boa reflexão. E para nós que trabalhamos com adolescentes e jovens, em diversos contextos e sob o enfoque restaurativo, estas análises são pertinentes, construir sentidos de pertencimento, tolerância, resiliência, saber lidar com frustrações, dor, construindo relacionamentos saudáveis, responsabilizações, etc tudo isso perpassa nosso saber fazer justo e educativo, para nós os adultos.
[22/10 11:25] Ana Paula Flores. 054. restaurativa: Perfeito Lastenia! Quando trabalhei com jovens percebi que, os jovens mais do que todas as demais faixas etárias, são muito parecidos nos seus fenômenos, independentemente de classe social. Eu sofri bullying na escola, e não tive nenhuma reação mais radical, creio Eu, pois tinha laços familiares sólidos. Mas, até a idade adulta, eu tive reflexos daquela perversidade. E quando adolescente, em um dado momento não queria mais ir para escola. Dessa forma, concordo mais com a teodia do Jordan, em princípio. Bom domingo a todos e todas!!!!
[22/10 11:25] Ana Paula Flores. 054. restaurativa: Teoria
[22/10 11:29] Luiza Maria Oliveira Scar. 045. restaurativa: Aliado ao trabalho q fazemos na Escola Estadual aqui...Trabalha-se com os sextos anos e com os grêmios e as famílias. Quem entra depois da gente tem a mesma reação ao falar da diferença gritante entre quem participa da nossa proposta e quem, ainda não participou...É emocionante ouvir o wue já se viveu...E que as crianças esperam com alegria e ansiedade o px encontro. Sonho com crianças de 05 anos fazendo isso...Os Fundamentos da JR cim a metodologia ESPERE da Fundacion para La Reconciliacion e as Praticas de JR é inegavelmente a saida...Penso eu!
[22/10 11:37] Luiza Maria Oliveira Scar. 045. restaurativa: E todas as práticas são altamente eficazes. Há uns 04 anos fomos chamados para trabalhar o que chamo de nosso primeiro caso de Bullying  em uma Escola. Aqueles adolescentes nunca mais foram os mesmos. As meninas falaram de seus desconfortos e a reacão dos meninos  foi surpreendentemente simples..."Nossa! Nós fizemos tudo isso com vcs? Estávamos brincando...Porque não falaram com a gente? Olha, com o objeto da fala, um escutando o outro o resultado foi mesmo emocionante!... Sim...Cada círculo...Uma história contada/ouvida é isso que considero uma mudança paradigmática...Pois, uma cultura não se muda com pouco tempo...Enfim...Como diz HZ não esperemos reconhecimento... Trabalhemos juntos!
[22/10 11:42] Leoberto Brancher. restaurativa: Escolas, escolas, escolas. Círculos em Movimento nas Escolas. Por as palavras para andar !!!
[22/10 13:06] ‪+55 15 99134-5104‬: O ser humano é um ser complexo, composto por aspectos subjetivos-individuais e relacionais, inserido em estruturas institucionais e sociais. Assim, a violência, da mesma forma, é um fenômeno complexo, motivada por fatores relacionais, institucionais e sociais, pelo que a Justiça Restaurativa busca a conscientização de todos esses fatores e o trabalho para supera-los.
Sim, podemos entender, como explicado no texto de Jordan, que os motivadores desse triste episódio são fatores como: a dificuldade dos jovens em lidar com frustrações, a criação em um ambiente familiar que transmite a ideia de que se pode tudo o que se quer, impondo-se a vontade pela força, a idolatria a discursos de ódio e eliminação do outro. Somando-se a isso, o fácil acesso a armas.
Todavia, o bullying é um reflexo de uma sociedade pautada pelo individualismo, utilitarismo, consumismo e pela exclusão, que fomenta a competitividade e impulsiona o ódio de todos contra todos, a falta de empatia, a desumanização.
Apesar de concordar com os argumentos de Jordan - que, a meu ver, explicam parte da problemática -, colocar a questão dessa maneira (não foi o bullying, mas sim a formação do jovem e sua família), no contexto de uma sociedade composta por pessoas formatadas pela racionalidade penal moderna, com foco na culpa individual, acaba por fomentar a dicotomização do debate, ou seja, "culpa" jovem/família x "culpa" escola, em que as responsabilidades de todos serão desconsideradas para se atribuir culpa a um ou a outro. E sei que não foi esse o intuito do autor, que muito bem fundamentou o seu ponto de vista, de forma bastante ponderada, inclusive ressaltando as questões sérias em torno do bullying, as quais ele também não minimiza. Sei também que todos aqui, conscientes dos fatores que motivam atos de violência, não farão essa leitura restrita. Mas, vi este texto compartilhado no Facebook e, na sequência, discussões docotomicas e sectárias sobre de quem é a culpa então...

Sim, é fundamental trabalharmos a conscientização de todos  esses fatores que motivam violências, sem desconsiderar nenhum.
E, quanto às escolas, a Justiça Restaurativa no âmbito da Educação se faz, cada vez mais, imprescindível! É importante trabalhar, de forma restaurativa, a reflexão, a responsabilidade, o protagonismo, o pertencimento, a tolerância etc., com os jovens. Mas, por outro lado, não é menos importante atuar na transformação da estrutura institucional e de convivência da própria escola, já que, como a maior parte das instituições, vem estruturada como reflexo da própria estrutura social, com base na hierarquia, na exclusão, na punição, gerando sentimentos de não pertencimento a todos os que nela convivem (alunos, professores, gestores), o que, portanto, atua como uma das "molas propulsoras" da violência.
Assim, o trabalho restaurativo na escola precisa se voltar, também, para a construção de uma gestão democrática, para a convivência com base nos Direitos Humanos, para a revisão das normativas internas com objetivo de inserção da lógica restaurativa, com a finalidade de, assim, se fomentar um ambiente de pertencimento e cooperação de todos para com todos, construindo-se cidadania e desarmando "molas propulsoras" desencadeadoras de violência, como bullying e outras situações que geram o sentimento de não pertencimento.
[22/10 13:44] ‪+55 62 8410-1995‬: As microviolencias praticadas no cotidiano, podem causar danos irreversíveis....
[22/10 22:13] Ana Paula Flores. 054. restaurativa: Importante a reflexão por várias lentes mesmo.
[23/10 01:05] Paulo Moratelli. 054. restaurativa: Contribuindo para o debate:
[23/10 01:06] Paulo Moratelli. 054. restaurativa: IMPORTANTE - Não confundam BOTECOTERAPIA com Psicologia científica. Sobre a tragédia da Escola de Goiânia.
Análises superficiais de tragédias podem ser tão danosas quanto as próprias tragédias.
Minha timeline explodiu com a notícia "Não foi Bullying" escrita por um SUPOSTO psicoterapeuta chamado Jordam Campos. [me recuso a colocar a "notícia" com o texto do autor aqui e dar mais ibope por um sujeito sem quaisquer condições técnicas ou éticas de analisar a situação].

Antes de tudo, vamos esclarecer: o autor NÃO É PSICÓLOGO, se auto intitula FILÓSOFO, iridologista e psicoterapeuta que trabalha com Terapia de Regressão, PNL e outras pseudociências. (nota: impossível saber se mesmo filósofo ele é, pois não há Currículo Lattes em seu nome)! Ressalto, não tem formação em psicologia clínica.

AINDA que o individuo fosse psicólogo clínico ou psiquiatra, seria um desserviço e uma questão ética séria fazer a análise do caso -- de um estudante adolescente que atirou nos colegas de sala em Goiânia essa semana -- a partir de recortes de notícias publicadas no jornal.

Isso é um disparate!

Sem avaliar pessoalmente o adolescente, analisar criteriosamente a família, escola, colegas e demais histórico, fazer qualquer comentário (que mesmo assim seria apenas uma hipótese) se valendo de status profissional é absurdo e pode ser muito perigoso.

Perigoso porque muitas pessoas já acreditam que bullying é frescura e que não impacta na saúde mental das crianças e adolescentes. Menos ainda acreditam que o bullying crônico possa levar a condições severas de alterações emocionais (depressão, ansiedade, etc) e contribuir para a apresentação de um padrão de comportamento prejudicial (agressividade, suicídio, etc).

Colocar a culpa no próprio adolescente (e em sua família) sem ter acesso às informações é perpetuar um ciclo de exclusão  e sofrimento que não irá reduzir os diversos problemas emocionais que temos que acolher constantemente na clínica fruto do Bullying.

Provavelmente, assim como em qualquer situação extrema, diversos fatores podem ter contribuído concomitantemente para a tragédia na escola de Goiânia: tanto fatores inatos quanto fatores ambientais. Fatores como as habilidades sociais do adolescente, sua saúde mental prévia, possíveis fatores genéticos, possíveis relações familiares, possíveis relações com os pares, alterações neurológicas, dentre outros, devem ter tido seu peso para o terrível desfecho visto na escola.

O que não podemos, de forma alguma, é "analisar" de forma displicente, sem acesso às informações necessárias, e ainda alardear um veredicto se valendo de uma pretensa posição de autoridade como esse Jordan resolveu fazer.

Por favor, não confundam Botecoterapia com Psicologia Científica. A população já é avessa a psicologia e psicoterapia por diversas razões, mas associar psicoterapia com porcaria e manchetes sensacionalistas acaba gerando um efeito ainda pior.

By Larissa Zeggio 22/10/2017

ps: O uso do termo "psicoterapeuta" gera bastante confusão na população. Há uma ligação automática da palavra "psicoterapeuta" e "psicoterapia" com o profissional formado em psicologia, embora outros profissionais que não tenham formação em psicologia se utilizem desses termos para suas práticas terapêuticas baseadas em outras áreas (muitas vezes não científicas). É importante sempre buscar as credenciais do profissional para se assegurar de sua formação e embasamento técnico científico na área. No caso em questão o autor do texto (Jordan) não disse que era psicólogo, mas psicoterapeuta. Em vista da compreensão de psicoterapia da população, e do uso da autoridade profissional de psicoterapeuta para justificar sua posição no caso, foi importante destacar que o autor do texto não é psicólogo clínico e, ainda que fosse, sua conduta foi leviana.

#NãoàBotecoTerapia
#PsicologiaCientífica
#MaisÉticaPorFavor

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